O seu pai, Henryk Spitzman Jordan, chegou ao Brasil com recursos limitados, mas logo fundou a Companhia de Importações, Industrial e Construtora, conhecida pela sigla CIIC, responsável por obras emblemáticas como o edifício CBI Esplanada, no centro de São Paulo, que se tornaria um marco da arquitetura moderna brasileira. Ou o Edifício Chopin, no Rio de Janeiro, inaugurado nos anos 50 e que permanece, ainda hoje, como um dos mais luxuosos da “cidade maravilhosa”.
André Jordan estudou num colégio interno, nos Estados Unidos, onde despertou para a política, com ênfase nos assuntos cívicos, no New Deal e na ação económica e social de Franklin Roosevelt, que criou vários instrumentos de regulação do mercado. Cimentou-se aí o seu lado humanista, com fortes preocupações sociais, algo que viria a ganhar destaque nos futuros empreendimentos que veio a promover, distinguindo-se pela comunhão com a comunidade e com o meio natural envolvente.
De regresso ao Rio de Janeiro, começou a trabalhar aos 17 anos como repórter do Diário Carioca. A paixão pelo jornalismo e pela escrita acompanhou-o durante toda a vida, plasmada nos vários livros que escreveu, incluindo um livro de memórias intitulado “Uma Viagem pela Vida”.
Acompanhou também o seu pai nos negócios do imobiliário, especializando-se nas vendas. Depois da morte de Henryk Jordan, em 1967, liquida as empresas, já com ramificações internacionais (em França, Portugal e Argentina) e ruma a Nova Iorque, onde se torna Diretor de Desenvolvimento Internacional da Levitt & Sons, um dos grandes promotores imobiliários norte-americanos da área residencial. Já tendo ganho experiência internacional nos negócios do seu pai, em Buenos Aires, vai agora para Porto Rico. E depois para Paris, como responsável pelas operações de vendas na Europa de um empreendimento nas Bahamas.
Em 1971, desiludido com as experiências em grandes organizações internacionais, lembra-se de Portugal, onde o pai já tinha tido negócios. Funda a Planal S.A. e compra a Quinta dos Descabeçados, em Almancil, no Algarve, onde virá a construir a Quinta do Lago, um resort de 645 hectares, hoje um dos mais luxuosos da Europa.
Com a colaboração do arquiteto João Caetano, lança o master plan da Quinta do Lago, cujo projeto será apresentado à imprensa internacional em 1972, concluídas que foram as obras de restauro da Casa Velha, a primeira edificação. André Jordan sempre defendeu que os grandes eventos culturais são um fator crucial para o desenvolvimento turístico de um local e, em 1973, lança o Festival Internacional de Música do Algarve, acontecimento ímpar numa região então desprovida deste tipo de iniciativas ligadas à cultura. Um ano depois, já após a Revolução dos Cravos, é inaugurado o campo de golfe da Quinta do Lago.
O empreendimento seria intervencionado pelo Estado em 1975 e André Jordan regressa ao Brasil, onde lança alguns projetos, seja por sua iniciativa como em colaboração com a empresa Carvalho Hosken – até recuperar a sua Quinta do Lago, em 1982, relançando o empreendimento com um grande evento de golfe e a visita dos Reis de Espanha.
Foi esse projeto marcante que viria a colar-se inexoravelmente à sua imagem de marca: um homem capaz de imaginar futuros e de os conceber, elevando todo um setor a uma outra dimensão. E, por isso, ficou conhecido como o “pai do turismo português”.
Vendida a Planal em 1988, André Jordan assume o cargo de Administrador Executivo da Bovis Abroad, em Londres, empresa do Grupo Bovis dedicada aos negócios imobiliários internacionais, com projetos em Espanha, Portugal e nas Caraíbas, incluindo o famoso La Manga Club, no Sul de Espanha.
É em associação com a Bovis Abroad que cria, dois anos depois, a Planbelas SA e compra os primeiros 100 hectares de um terreno numa zona campestre, rodeada de quintas e casas senhoriais, em pleno Parque Florestal da Serra da Carregueira, às portas de Lisboa. Iniciava-se a primeira fase do Belas Clube de Campo, esse “lugar ideal para o culto da natureza e para a belle vie que caracterizam o romantismo”, nas palavras de André Jordan.
Foi ali que escolheu viver, numa comunidade residencial com forte consciência ambiental, de tal forma que o empreendimento, entretanto já na sua terceira fase de expansão, recebeu inúmeros prémios de sustentabilidade, tornando-se pioneiro, em Portugal, na atribuição de várias certificações ambientais.
O seu campo de golfe, por exemplo, foi eleito, em 2011, pela revista National Geographic, como um dos 10 melhores do mundo, certificados pela GEO com a melhor prática de gestão ambiental, nomeadamente no recurso da água.
O golfe foi uma área que o encheu de alegrias, como gostava de dizer. Criou nove campos, que receberam grandes eventos como o Open de Portugal ou o Portugal Masters, no calendário do European Tour. Em 2000, criou a Taça do Presidente, com o alto patrocínio do então Presidente da República Jorge Sampaio, um torneio de golfe solidário, cujas receitas revertiam a favor de uma instituição de solidariedade social. Este evento seria retomado com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Desde a Quinta do Lago até ao Vilamoura XXI, André Jordan elevou o Algarve a local privilegiado para a prática da modalidade, atraindo os praticantes internacionais e colocando a região na rota dos melhores destinos do mundo para praticar golfe.
De regresso às grandes obras no Algarve, André Jordan adquire, em 1995, o controlo acionista da empresa Lusotur – é o lançamento do mega projeto Vilamoura XXI, em colaboração com a Câmara Municipal de Loulé, que inclui a recuperação de Vilamoura e de um resort de 1.700 hectares, desenvolvido em torno da marina, e com cinco campos de golfe.
Era um desafio ainda maior do que a Quinta do Lago e, no espaço de um ano, Vilamoura aparecia de cara lavada, num esforço conjunto entre proprietários privados e a Lusotur, responsável pelos espaços comuns e espaços públicos daquela imensa revitalização. Tornou-se um case study do Urban Land Institute, organização de especialistas internacionais em estudos imobiliários.
Além do golfe, abriram-se novos restaurantes e espaços de diversão noturna. À expansão com novos aldeamentos, seguiram-se os prémios e as certificações ambientais. Uma década depois, André Jordan vende a Lusotur ao grupo espanhol Prasa. Nesse mesmo ano de 2005, o Victoria Clube de Golfe recebe a World Cup. A Avenida Praia da Falésia chama-se agora Avenida Comendador André Jordan.
Fellow do Duke of Edinburgh's Award, em Inglaterra, destinado a jovens e com o intuito de desenvolver uma cidadania ativa e iniciativas complementares à educação académica, André Jordan começa a organizar a versão portuguesa: o Prémio Infante Dom Henrique. Foi também o primeiro presidente do Urban Land Institute Portugal e um dos quatro fundadores da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), em 1991.
Homem desde sempre ligado às artes, viria a integrar o Conselho de Administração da Fundação Serralves, no Porto. E manteve-se ativo tanto na escrita de livros como na holding do grupo.
André Jordan morreu aos 90 anos, a 9 de fevereiro de 2024. Deixou quatro filhos e nove netos. Deixou ainda uma vida cheia e rica, com uma obra notável para o desenvolvimento de Portugal.
Em Portugal, Brasil, Argentina Inglaterra ou nos Estados Unidos da América, André Jordan distinguiu-se como empresário, promotor imobiliário, grande impulsionador do Turismo e também pelo seu carácter humanístico, dedicando-se a várias organizações internacionais de desenvolvimento humano e cultural.
A sua vida e obra singulares mereceram, por diversas vezes, o reconhecimento ao mais alto nível.
Medalha Almirante Tamandaré, atribuída pela Marinha do Brasil.
André Jordan recebe a Chave da Cidade de Nova Iorque.
Nomeado Cônsul Honorário do Brasil no Algarve.
Nomeação como Avenida André Jordan do eixo principal da Quinta do Lago, por deliberação da Câmara Municipal de Loulé.
Comenda da Ordem Civil do Mérito Comercial, pela Presidência da República Portuguesa.
André Jordan assume a presidência do Prémio Infante Dom Henrique.
Nomeado Fellow do Duke of Edinburgh's Award World Fellowship.
Grã-Cruz da Ordem do Mérito, atribuída pelo Presidente da República Jorge Sampaio.
Medalha Municipal de Mérito Grau Ouro, pela Câmara Municipal de Loulé.
Medalha de Mérito Turístico Grau Ouro, pelo Turismo de Portugal.
Prémio de Melhor Promotor Imobiliário Estrangeiro no Marbella Meeting Point.
Grande Oficial da Ordem do Rio Branco, pelo Governo do Brasil.
Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, pela Presidência da República Portuguesa.
Título de cidadão honorário o Rio de Janeiro.
Medalha de Ouro do Turismo do Algarve.
Doutoramento Honoris Causa pelo ISCTE.
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Algarve.
Medalha Municipal de Mérito Grau Ouro, pela Câmara Municipal de Sintra.
Premiado com o World Travel Leaders Award, em Londres.
Medalha de Mérito Pedro Ernesto, pelo município do Rio de Janeiro.
Nomeado Oficial da Ordem do Império Britânico (OBE-Hon), pela Rainha Isabel II.
Prémio Nacional de Turismo – Categoria Carreira, pelo Turismo de Portugal.
Grã-Cruz da Ordem do Mérito Comercial, atribuída pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.